Uma TV surreal
Imagine, ligar a TV e ver o mundo de um jeito diferente. Mas diferente mesmo, com um olhar surrealista. Foi isso o que fez Alan Yentob (na foto ao lado, Yentob em um momento surreal), no quarto e último episódio da série Imagine, sobre arte, que foi ao ar na última terça-feira no canal 1 da ÃÛÑ¿´«Ã½.
Infelizmente, eu perdi os três episodios anteriores da série, que falaram sobre a dupla de artistas britânicos Gilbert e George, contaram a luta da senhora Maria Altmann, de 90 anos, para recuperar cinco quadros de Gustav Klimt roubados pelos nazistas da familia dela em Viena em 1938 e também falaram sobre a história do músico Scott Walker, que teria influenciado artistas como David Bowie e Radiohead. Isso eu sei, é claro, porque visitei o site da série, que você pode conferir aqui. Vale a pena, porque você pode ver vários vÃdeos e galerias de fotos ilustrando os trabalhos desses artistas.
Tambem lá no site, Yentob diz que a idéia da série é ser "ousada". "Nós queremos que seja acessÃvel, mas esperamos também inspirar e surpreender". Entre os entrevistados do programa Imagine... It’s the surreal thing, estavam o artista Grayson Perry, que se veste com roupas de menina (na foto ao lado, ele aparece ao lado da mulher e da filha), e fez um mapa da própria mente, a artista Zoe Walker, e sua lua gigante, e o cineasta Michel Gondry, que fez o filme A Ciência dos Sonhos.
O mais legal do programa é que Yentob o fez como se estivesse num sonho mesmo. No inÃcio, ele aparece no quadro de René Magritte The Reckless Sleeper e dizendo "I had a dream...(Eu tive um sonho)" e, a partir dessa idéia, o programa prossegue. Eu não vi esse inÃcio. A Carolina Oliveira, aqui da ÃÛÑ¿´«Ã½, me contou. Mas, em parte talvez por causa do programa, consigo imaginar essa idéia e, só de imaginar, já me sinto bem.
Eu peguei o programa pela metade, sem querer mesmo, no meio do jantar. Mas creio que já deu para perceber, realmente me inspirou. Então, toda essa introdução sobre o programa de Yentob é porque eu queria dizer que é uma coisa realmente maravilhosa que a TV britânica tem, que você pode encontrar programas assim, fora do ordinário. Há espaço, e não só na ÃÛÑ¿´«Ã½, que é uma TV pública e tem, obviamente, um perfil diferente. Muitos programas são terceirizados e os produtores não tem medo de errar.
É verdade que a TV britância não é perfeita. Está também cheia de shows de "reality TV", de gente "vendendo a mãe" para ficar famoso, ou de celebridades no meio da selva. Além disso, os canais fechados dominam muitos dos jogos de futebol e, o mais absurdo na minha opinião, a cerimônia do Oscar, que não pode ser vista na TV aberta. Para completar, as novelas, que estão no ar há uns 20 anos, não são nada mesmo comparadas às novelas brasileiras.
Mas, mesmo assim, se é preciso trocar o Oscar por um programa desses como o Imagine, eu acho que vale a pena.