Comida é o novo rock'n'roll?
Esse título não é meu, é de um excelente artigo da revista britânica Time Out dessa semana.
A razão do texto - o “gancho”, no jargão dos jornalistas – foi a primeira edição do , no fim de semana, em um parque aqui em Londres.
Trata-se de um festival de música e comida, cria do conhecido chef Jamie Oliver.
Antes da fama, Oliver tocava em uma banda indie chamada Scarlet Division, em que tocava bateria e cuidava da alimentação da rapaziada.
A carreira de chef acabou se impondo, mas Oliver sempre permaneceu antenado em música e essa ligação acabou rendendo a ideia do Feastival.
“Onde mais você pode se entregar aos prazeres da comida deliciosa de alguns dos melhores restaurantes de Londres por apenas 5 libras (R$ 12,5) o prato, enquanto curte os sons de verão de atrações de primeira linha?”, pergunta a apresentação do evento no seu site.
As “” são meia-boca – Charlatans, Mystery Jets, New Young Pony Club, Guillemots, Soul II Soul, The Bees, Athlete –, mas os , mesmo não estando entre os mais renomados, criam um leque formidável: world cuisine, cozinha britânica, hambúrgueres, vinhos, frutos do mar, espetos, coquetéis, etc.
Todos eles erguerão cozinhas “pop-up” no parque.
Acho a idéia ótima, um evento que permite uma experiência sensorial múltipla.
Já escrevi em outro post sobre a ligação entre música e culinária e acho que a Time Out acertou na mosca ao apontar paralelos entre a indústria da música e a cultura gastronômica.
Eu acho que estes existem há tempos, mas só agora, graças à TV e à disseminação da fama dos chefs, é que ficaram mais evidentes.
Foodies idolatram restaurantes, chefs, cozinhas, estilos. Fãs cultuam bandas, discos, artistas, estilos. Se você é o que come, é também o que ouve.
Há vários paralelos nas técnicas de promoção de artistas e chefs, muitos se projetaram graças a uma imagem. Assim como no rock'n'roll, o mundo da alta cozinha tem o chef bad boy (Marco Pierre White, Anthony Bourdain), o bom moço (Jamie Oliver), o hippie (Hugh Fearnley-Whittingstal) e o intelectual (Heston Blumenthal).
E tem esse aspecto, bem lembrado pela Time Out: tanto um disco – uma coletânea do Al Green ou do Marvin Gaye, por exemplo – quanto um bom jantar têm o poder de conduzir uma noite a dois para os braços abertos do amor.
Esse novo rock'n'roll também está passando por uma pequena e ruidosa revolução, o "punk" do universo foodie. Mas isso fica para o próximo post.