A vida imita a arte
Era uma noite de segunda-feira tranquila na capital americana.
O relógio havia há pouco passado da meia-noite. A chuva, após ter castigado a cidade pelo dia inteiro, resolvera dar um descanso.
Eu não conseguia dormir, então resolvi começar um livro. Quando cheguei à página 15, ouvi uma gritaria vinda da rua.
''Eu só tenho 20 dólares'', girtou um sujeito.
O outro murmurou qualquer coisa, mas não consegui ouvir. Fui até a janela e vi um vulto correndo em direção à ruela em frente ao apartamento onde vivo. E, depois, um carro dando partida.
Não pensei duas vezes. Resolvi ligar para o 911, o número do serviço de emergências americano. Nisso, já era pouco mais de meia-noite e meia.
Às 12h38, duas viaturas pararam em frente ao meu prédio. ''Foi você que ligou para a polícia?``, me perguntaram quando apareci na janela.
Desci, e conversei com o oficial Hambrick, um mulato claro com cabelo rasta e aparência similar à do rapper Ice-T. Coincidência ou não, Ice-T é protagonista da série Law and Order.
Ele ouviu e anotou o meu relato e pegou meus dados: Garcez, Bruno, endereço e telefone.
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Era por volta de 1h15 e eu continuava sem conseguir dormir. Retomei a minha leitura.
Mas o oficial Hambrick voltou a aparecer diante de meu edifício, para contar que eles haviam encontrado um suspeito e indagar se eu aceitaria tentar fazer um reconhecimento.
Entrei na viatura e fui conduzido a uma rua onde estavam outros carros de polícia. A coisa aí começou a lembrar cena da série The Wire .
O oficial Hambrick pediu que eu me abaixasse no banco, então gritou, como nos bons seriados: ``Where`s the one?``, algo como ``Cadê o cara?``.
Em seguida, ele me explicou o que iria acontecer. Os seus colegas trariam para perto de nosso carro os dois suspeitos, mas antes lançariam em direção do rosto deles a forte luz de seus holofotes, a fim de que eu pudesse vê-los e eles não pudessem me enxergar.
Os dois suspeitos, ambos afro-americanos jovens, usavam roupas escuras semelhantes à do vulto que vi entrando na ruela. Então, poderia ser qualquer um dos dois. Logo, não fui capaz de reconhecer ninguém com certeza.
''Não queremos colocar palavras na sua boca'', me assegurou o sargento, ou ''Sarge'', como o chamou o ofical Hambrick.
Após o reconhecimento, ele me levou de volta ao meu prédio, informando que eu poderia ser chamado novamente pela detetive ou por representantes da procuradoria-geral dos Estados Unidos, para um depoimento ou uma entrevista telefônica.
O oficial Hambrick ao se despedir, cravou um ''agradecemos a sua ajuda'', ou, no original, ''We apreciate your help'', fala que eu já devo ter escutado em algum episódio de CSI Miami.
Me lembro certa vez de haver conversado com um amigo que reside aqui, mas que também não é americano, se a maneira como as pessoas nos Estados Unidos costumam falar, à vezes terminando as frases com uma interrogação, teria surgido por influência das séries de TV ou se foi o caminho inverso.
Depois de ver a polícia americana em ação, fiquei me perguntando se os homens da lei daqui se inspiram nos filmes policias ou se é o contrário.
São 2h38, eu não consigo dormir...
E um carro de polícia acaba de parar novamente em frente ao meu edifício...
dzԳáDzDeixe seu comentário
E ai? o que aconteceu?
Adorei o blog
Dr. Garcez,
Será que o senhor não estava sonhando?
A arte imita a vida? Ou é o contrário?
O Sargento chegou a gritar "ALTO LÁ"?
Você se recorda dele utilizar a palavra "meliante"?
Aguardo o capítulo II dessa história
Belo blog
Bruno,
acho que você anda vendo MUITO seriado!! (mas eu também...)
Numa cidade como Washington, onde para mim tudo parece set de filmagens, nao eh de se estranhar que tais coisas acontecam. Mas ainda acredito que a arte imita a vida!
São os policiais é que imitam as séries...O mais celébre das séries policiais que foi copiado foi o Kojak, Baretta (das séries americanas) e o Inspetor Maigret (belga). É obvio que a maioria dos policiais não admitem, mas tem uma parcela que contam que se inspiraram na séries policiais americanas. Só fiquei curiosa, quanto a um detalhe, você faria a mesma coisa, ou seja tomaria a mesma atitude, se fosse no Brasil, por exemplo?