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Os 'foodies' numa boa

Thomas Pappon | 2010-04-01, 15:55

Espero que isso não seja um choque, mas gostaria de informar que muitos entre vocês, caros leitores desse blog, são, assim como eu, o que se conhece aqui na Grã-Bretanha como foodies.

É um termo surgido nos anos 80 para designar pessoas com interesse ardente ou refinado por comida. Não confundir com gourmet, o cara que é especialista em haute cuisine, que gosta de comer bem e conhece os melhores restaurantes da cidade.

E não adianta só gostar de comer. Para ser foodie, é preciso querer fuçar e aprender sobre o assunto.

Aqui em Londres, nós foodies estamos numa boa. Temos à nossa disposição várias revistas especializadas, um acesso cada vez maior e facilitado a feiras e festivais de produtores (de frutos do mar, queijos, vinhos, cervejas, carnes, etc) e podemos curtir os programas de TV especializados que já cansei de mencionar em outros posts, programas como os documentários da recente temporada "Exquisite Cuisine" da ѿý 4, entre eles o Kings of Pastry, de D.A.Pennebaker (o mesmo que fez Woodstock, o filme) sobre a final do prestigioso concurso Meilleurs Ouvriers de France, que escolheu, entre 16 chefs, o rei da pâtisserie francesa, e The Man Who Ate Everything, o "ѿým Que Comia de Tudo", sobre a trajetória de Alan Davidson, o diplomata e gourmet que escreveu o Oxford Compendium to Food, uma enciclopédia com todas as coisas que são comidas no mundo.

O livro de Davidson é a bíblia dos foodies - e de chefs respeitados como Raymond Blanc. Ele explica a natureza e o sabor de coisas comestíveis em mais de 2,6 mil verbetes, começando com  Aardwark ( mamífero africano "que tem gosto de carne de porco") e terminando com Zuppa inglese (sobremesa italiana a base de biscoitos, licor  e creme inglês).

Gente como Davidson e os foodies também incrementaram o trânsito de temas culinários nos meios académicos britânicos. Foodie é chegado numa palestra. 

Em universidades das mais respeitáveis é possível aprender coisas como distinguir um queijo Parmigiano-Reggiano de 18 meses de um queijo Parmigiano-Reggiano de 30 meses, a história da gastronomia no espaço sideral ou a relação entre comida e fala, que foi, aliás, o tema da primeira e única palestra que acompanhei - minha estreia oficial como foodie - num domingão de manhã, no magnífico centro cultural Kings Place, dada pelo historiador e gourmet emérito Simon Shama.

Foi difícil me manter concentrado no que ele dizia, mas gostei muito de saber que os futuristas de Marinetti criaram várias "receitas eróticas" e de notar que nossa descoberta do mundo começa com a língua - o primeiro choro, as primeiras tentativas de comunicação e manifestação de fome e as primeiras sensações, tudo vem desse órgão muscular fabuloso e de certa forma subestimado.

Não sei se palestras sobre comidas são comuns nos meios culturais brasileiros, mas imagino que haja demanda, pois certamente há foodies no Brasil.

Eu iria correndo numa palestra sobre o 'verdadeiro' caldo de feijão, a história da pizza em São Paulo (de onde veio a de catupiry? e a de escarola?) ou até sobre um assunto mais manjado como a influência africana sobre a cozinha baiana (de que região da África veio a inspiração para o acarajé?).

dzԳáDzDeixe seu comentário

  • 1. à 03:58 AM em 04 abr 2010, Ana Roldão escreveu:

    Parabéns pelo artigo; sou historiadora e dou palestras no Rio de Janeiro sobre Gastronomia Histórica ... hábitos alimentares de personagens históricas do Império Brasileiro, as artes da mesa do século XIX e uma infinidade de curiosidades.

  • 2. à 05:24 PM em 07 abr 2010, Robi escreveu:

    muito bom artigo, eu sou uma foodie e nao sabia! ;-)

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