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Cinco dias em Paris

Thomas Pappon | 16:14, sexta-feira, 29 outubro 2010

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Passei cinco dias em Paris, de férias. Como qualquer ‘foodie’ faria, tinha planos de explorar restaurantes, mercados, supermercados e até de cozinhar no apartamento alugado, afinal, não é todo dia que se tem a chance de cozinhar em Paris.

O primeiro revés foi constatar que a libra, coitada, não está valendo nada e que tudo ali é muito mais caro. Até queijo francês eu encontro mais barato aqui em Londres. E recomendo muito cuidado para quem gosta de uma cervejinha. Em um café no Quartier Latin, que não era metido à besta, muito pelo contrário, paguei 8,5 euros (R$ 20) por um copo de cerveja. Depois vi que é assim na cidade inteira, pelo menos na região central. Deve ser um complô para obrigar os turistas a beber vinho.

O segundo foi o azar na escolha dos restaurantes. Um deles, escolhido a dedo por sua cara de bistrô típico e simpático, não servia jantar e, por falta de opção, fomos parar num restaurante japonês – aliás, fiquei surpreso com a quantidade de restaurantes japoneses na cidade.

O outro, que deveria sediar a comilança derradeira antes de embarcar de volta para casa no Eurostar, só servia comida depois das 19h00, o que só descobri tarde demais.

O terceiro revés veio na visita ao é mais perto do apartamento, lá no 19º arrondissement, um mercado coberto que devia estar em reforma e só tinha duas bancas, uma de frutas e uma de peças para carros (!).

E o quarto foi a visita ao Quai des Jemmapes, uma 'dica secreta' indicada em um siteque parecia ser de confiança. O 'quai', localizado na margem direitado Canal de St Martin, supostamenteabriga uma espécie de novo polo de restaurantes e cafés da cidade,umaalternativa para quem quer distância damuvucado Quartier Latin ou de outros locais de grande apelo turístico.

Encontrei dois ou três bares ali, bem caídos, um fiasco. Uma experiênciabem diferente da visita à RueMouffetard, perto do Panthéon, uma rua cheia de vida, cor, lojas legais e um leque considerável de patisseries (docerias) e restaurantes.

E assim eu entro nospontos positivos. Tivemos, sim, um jantar em um restaurante típico, indicado por uma francesa, com o nome prosaico de A la Biére, perto da sede do Partido Comunista Francês, projetada por Oscar Niemeyer.

Tive a impressão de ser o único turista no local. O restaurante, barato, estava lotado, comemos muito bem - pedi um steak tartare - e a noite foi um grande alto astral.

Visitei quitandas, peixarias, açougues e cafésencantadoresnos arredores de Montmartre.

Outra boa recordação foi a de quando fritei bifes em casa, afinal, eram bifes comprados num açougue de Paris.

E, o melhor, nada como ter três boulangeries (padarias) perto de casa. Todo dia eu ia de manhã comprar baguettes e croissants quentinhos.

Conheci uma baguette, a flute au levain, que deve ser o pão mais gostoso que comi na vida, uma baguette de cor mais escura,massa levemente azeda e consistência de pão rústico.

Francês sabe das coisas. Cada parisiense tem sempre perto de casa uma padaria, um açougue, um mercado ou uma feira, um café, um restaurante e uma estação de metrô.

Em Londres, infelizmente, a coisa não é bem assim.

Suco de maçã com 'twist'

Pablo Uchoa | 10:59, segunda-feira, 25 outubro 2010

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Suco de maçã: máximo benefício com um pouquinho mais de trabalho

Para não deixar órfãos os leitores deste blog enquanto meu amigo Thomas Pappon se diverte com a família em Paris (cobrem dele bons posts no ѿý à Mesa por conta disso!), deixo aqui outra dica feita a partir das abençoadas frutas do pomar do Ricardo Acampora, de onde vieram as uvas para o post anterior.

Suco de maçã – mas com “um toque”. Uma passada rápida pelo fogo para dar aquele aspecto límpido e claro e um paladar arredondado, sem excesso de acidez nem de ‘travo’.

Para 700 ml de suco, usei :

0,5 kg de maçã
500 ml de água
Outros 200 ml de água na hora de ferver
Duas ou três colheres de açúcar
Duas pitadinhas de canela

Dobrei a receita e fiz o método em processador e em liquidificador e o resultado é bem parecido, embora haja diferenças. Então vamos lá:

1) Corte as maçãs em cubos, sem se preocupar muito com o tamanho e nem com as sementes. Apenas limpe os pontos excessivamente maduros ou apodrecendo.

2) Agora bata no processador ou liquidificador. A diferença é que, no liquidificador, é preciso bater a água e a fruta ao mesmo tempo, e o resultado é uma espécie de purê. No processador, o líquido e o sólido ficam ligeiramente mais separados e acho que isso resulta em um suco mais diluído.

3) Coe diretamente em uma panela, acrescente o restante da água, o açúcar e a canela (ambos a gosto). Adicionar um pouco de água nesse estágio é importante porque a maçã também é rica em pectina, que, em contato com açúcar, tende a engrossar a mistura demasiadamente. É excelente para purês e para comida de bebê, mas não para suco.

4) Agora é preciso levantar fervura. Quando isso acontecer, você verá que as partículas maiores são empurradas para a superfície. Retire essa camada com uma escumadeira, forrando a colher com um papel de cozinha normal para agarrar as partículas menores.

O suco resultante sai com um aspecto bem convidativo e integra bem os sabores da fruta com a doçura do açúcar e da canela. Se quiser fazer uma bebida para o inverno, basta ser mais generoso com a canela e acrescentar um cravinho.

Se há diferenças no resultado da bebida feita com o processador e o liquidificador, acho que posso mencionar: 1) uma cor mais escura no processador e mais clara no liquidificador e; 2) um sabor marcado pela canela no processador e outro mais suave, frutado, no liquidificador.

Não sei exatamente por que essas diferenças – talvez porque a possibilidade ir acrescentando a água aos poucos no processador permitiu um maior contato com o ar, no primeiro caso. E, no segundo, porque a fruta se misturou mais ao líquido no liquidificador.

Mas, claro, o bom de suco de fruta é que nem sempre é preciso tanta sofisticação. Quem tem máquina de fazer sucos, pode simplesmente colocar as frutas inteiras, adicionar um limãozinho para elevar a acidez e o frescor da bebida e se refestelar.

Cru ou cozido, esse é o tipo do suco que nos faz perguntar qual é o sentido de comprar o produto industrializado, quando é tão fácil fazer um desses, que tem a mesma cara e o gosto é melhor.

Viva a fruta, abaixo o açúcar!

Pablo Uchoa | 14:18, segunda-feira, 18 outubro 2010

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Benditas cascas das uvas

É muito mais interessante cozinhar com o que sai do seu próprio jardim. Mas no caso deste post o jardim não é meu, e sim do meu amigo Ricardo Acampora, aqui da ѿý, a quem devo o crédito de cultivar as maçãs e uvas que levei para casa para me divertir no último fim de semana.

Das maçãs, fiz suco. Das uvas, essa geleia que requer o mínimo de ingredientes:

1 kg de uvas
500 ml de água
300 g de açúcar

Mas antes, algumas considerações importantes. Primeiro, sobre a vantagem de fazer geleia de uvas: a casca das frutas é rica em pectina, o agente natural que engrossa o caldo e dá consistência à geleia.

A rigor, para fazer geleia basta pegar um suco de qualquer coisa, acrescentar água e pectina comprada no supermercado e levar à fervura. Mas eu queria aproveitar a propriedade natural contida na casca das minhas uvas. Primeiro, porque assim eu poderia usar muito menos açúcar que a maioria das receitas (uma das funções do açúcar é engrossar o doce). Segundo, porque a lógica diz que utilizar as cascas dá ao doce mais sabor, cor e fragrância, incluindo aquele azedinho e a sensação de "trava" típica da fruta.

A outra consideração digna de nota é sobre um probleminha – literalmente, diminuto – capaz de dar muito trabalho: as sementes. E as uvinhas do meu amigo Ricardo, nesse sentido, eram bem safadas, pequeninas e cheias de sementes.

Não vejo obstáculo para fazer geleia a partir de variedades sem semente, mas não era o meu caso. Assim, procurei na internet várias maneiras de tirar as sementes das uvas. A mais fácil, acredito, é simplesmente amassá-las em uma panela ou vasilha e depois catar as sementes, usando uma outra panela para separar as cascas e polpas "limpas" daquelas ainda com caroço.

A maneira que eu escolhi envolve um processo de fervura que, acredito, também contribuiu para extrair as características da fruta. Além do mais, o tempo maior de fervura no início da receita parece ter diminuído em igual medida o tempo de fervura no final. Mas chega de blá blá blá.

Primeiro, remova todos os talos, lave as frutas e jogue fora todas as que eventualmente não estiverem boas. Coloque o quilo de uvas e os 500 ml de água na panela (suficiente apenas para cobrir as frutas). Minha receita dizia para ferver em fogo brando por meia hora, mas achei pouco e acabei fervendo por uma hora. Reserve o suco (na minha receita, restaram uns 350 ml).

Hora de tirar as sementes. Em tese, li que basta ir esfregando as cascas das uvas nas mãos e as sementes naturalmente ficam entre os dedos. Verdade. Mas isso leva tanto tempo que tive medo de ter de passar a noite toda catando semente naquela massa de polpa e casca.

Para apressar as coisas, levei toda aquela massa para uma peneira e amassei, amassei e amassei. Na prática, as cascas e a polpa viram um purê e passam na peneira, e as sementes ficam.

A partir daí, é rapidíssimo. Basta levar as polpas + cascas + suco à fervura em uma panela. Assim que a mistura começar a ferver, baixe o fogo, acrescente o açúcar e vá mexendo aos poucos, até o açúcar se dissolver.

Depois de um tempo, quando a geleia levantar fervura novamente, conte cinco minutos. A partir daí, comece a testar o ponto da mistura a cada dois minutos para não dar bobeira e jogar trabalho fora. Sobre um pires frio (a dica é colocá-lo na geladeira no começo da receita), despeje umas gotinhas de geleia e recoloque-o no congelador por um minuto para esfriar. A geleia deve ter uma consistência de fio, ou seja, estar um pouco firme. Pegajosa mas não grudenta demais: lembre-se de que ela vai endurecer mais à medida que for esfriando e o açúcar for tomando corpo.

Na minha receita, não foi preciso ferver mais que dez minutos - ou quinze a partir do momento da segunda fervura.

Na hora de colocar a geleia em frascos (por exemplo, recipientes de geleia já utilizados), esterilize-os, fervendo-os por dez minutos. Isso aumenta o tempo de conservação do alimento. Vi também na internet que há quem vire o frasco de ponta cabeça (com a tampa fechada, claro) para a geleia cair sobre a tampa e criar um vácuo no recipiente. Confesso que não fiz isso porque já encontrei a informação muito tarde, mas não custa.

Deixe esfriar para que chegue na consistência final. E bom apetite.

Como cortesia ao Ricardo, o dono das uvas, deixei-lhe em cima da sua mesa, na 2ª de manhã, uma amostra da geleia. Se gostou, não sei. Quem sabe até se anime a deixar um comentário nesse post.

Inicialmente, a nossa ideia era fazer "vinho" dessas uvas. Afinal de contas, fermenta-se de tudo, por que não também uvas de mesa? Mas não tive tempo de comprar o equipamento de fermentar e não podia deixar as uvas do amigo se estragarem.

O diabo é que, segundo li nos manuais, para fazer um fermentado de uvas decente, preciso de seis vezes mais uvas do que recebi de presente desta vez. Nove quilos de uvas é bastante. É bom começar a fisgar o amigo pelo estômago, já de olho na próxima safra.

* Atualização em 23/10 - Voltei a fazer a geleia com mais um carregamento de uvas do Ricardo. Dobrei a receita e, por engano, coloquei menos açúcar - o equivalente a 250g por quilo de uva. Na fervura, fui limpando com escumadeira a espuma que ia se formando.Demorou um bocadinho mais para chegar no ponto, mas, quando chegou, a segunda versão dageleia acho que ficou ainda melhor que a primeira! Tamém estou usando um novo método para esterilizar os fracos - colocá-los no forno com a boca para baixo, ligar o forno com o ventilador a 140-150º C e deixar 20 minutos. Mamão com açúcar!

A geleia de Nostradamus

Ricardo Acampora | 10:54, quinta-feira, 7 outubro 2010

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Quem não conhece Nostradamus? Ou melhor, quem nunca ouviu falar das famosas profecias deNostradamus, a coleção de curtos versos publicada em 1555 pelo astrólogo francês Michel de Nostredame?

nostradamus212266.jpg

Segundo especialistas que interpretaram os versos deixados pelo "profeta", Nostradamus previu dentre outras coisas o surgimento do nazismo, a ascensão de Hitler ao poder e a Segunda Guerra Mundial, como também o assassinato do presidente americano John Kennedy, o surgimento da Al-Qaida de Osama bin Laden e o ataque às torres gêmeas do World Trade Center de Nova York, em setembro de 2001.

Mas o que muita gente não sabe é que Nostradamus, nascido (1503), criado e falecido (1566) na região da Provence, sul da França, era também farmacêutico, chegou aestudar medicina e tinha grande interesse pela produção de cremes e geleias em conserva.

Detalhista,ela desenvolvia suas receitas procurando o equilíbrio perfeito entre o sabor, a longevidade na preservação das compotas, eo colorido atraente das frutas.

Antes de se dedicar a escrever suas famosas profecias, Nostradamuspublicou o Traité des fardemens et confitures, que pode ser traduzido como manual de cosméticos e conservas, ondedetalha o fabrico de vários cremes e conservas de frutas que segundo oapotecário, tinham propriedades terapêuticas além de satisfazerem o paladar.

nostradamuscereja.jpg

De um modo geral, quem explorou as receitas aprovou, sendo que a que tem recebido mais elogios éa que ensina a fazer a "perfeita" geleia de cerejas.

O doce é descrito no receituário de Nostradamus como sendo "de sabor excelente, de transparência clara ebrilho vermelho, como o de um fino rubi, com as cerejas mantidas preservadaspor muito tempo". Ele acrescenta que a geleia," de excelência suprema pode ser oferecida a um rei."

Vi aconserva ser recomendada em um programa de TV e fiquei curioso. Busquei a receita original do mestre que reproduzo abaixo e planejo fazer minha compota no próximo verão quando as cerejas estão na sua plenitude:

  • Ingredientes:
  • meio quilo de açúcar
  • 2 quilos de cerejas com talo
  • Preparo:
  • separe as cerejas mais maduras e mais bonitas que possa encontrar e arranque o talo
  • coloque o açúcar em uma panela de metal e sobre ele esmague as cerejas sem talo com as mãos limpas
  • leve a panela ao fogo (alto) e mantenha na fervura até que o volume seja reduzido à metade, mexendo constantemente com uma espátula limpa
  • estique um pano limpo sobre um recipiente vazio e sobre ele derrame o conteúdo da fervura
  • torça o pano sobre o recipiente de modo a extrair todo o líquido da mistura, se certifique que no pano restaram apenas os caroços e bagaço das cerejas
  • retorne o líquido filtrado ao fogo (baixo) e monitore o cozimento para que não seque demais, mexa com a espátula ou com uma colher de prata
  • tome cuidado para não deixar ferver demais para não secar e queimar
  • é melhor que a geleia fique um pouco "crua" do que excessivamente cozida pois o açúcar tende a ressecar um pouco a mistura durante o armazenamento
  • para saber se a mistura atingiu o ponto certo deixe cair um pingo sobre uma superfície fria como mármore e observe a consistência
  • a gota deve permanecer firme sem mover ou escorrer para os lados e deve apresentar um vermelhocomo o de um perfeito vinho tinto de Bordeaux
  • quando estiver certo de ter atingido o ponto, despeje a mistura nos vasilhames de compota
  • quando a mistura esfriar você verá que fabricou uma geleia de cerejas perfeita, impossível de ser superada em gosto, excelência e beleza.

Acrescento como dica os comentários de Nostradamus para você conferir se foi bem sucedido: "Se você deixar o conteúdo do frasco ser iluminado pelos raios do sol verá a beleza de um rubi. A geleiadeve ser oferecida a um príncipe quando ele estiver irritado com o calor para que possa apreciar suas delícias epureza."

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