ѿý

« Anterior | Principal | Próximo »

A arte de indicar a mesa

Thomas Pappon | 2010-11-11, 15:13

Nesta semana, um dos restaurantes mais conhecidos de Londres está comemorando,  em grande estilo, 20 anos. O assunto foi destaque nos cadernos especializados porque se trata do The Ivy, o restaurante das celebridades, o tipo de lugar que é muito mais famoso por ser famoso do que por causa da qualidade superior de sua cozinha.

E porque o restaurante resolveu celebrar a data com cinco apresentações, uma a cada noite, durante o jantar, de uma peça, Heavenly Ivy, escrita por Ronald Harwood, especialmente para a ocasião.

Dizer que a melhor chance de testemunhar o evento é trabalhando no The Ivy não é exagero algum. Por duas décadas, como diz o jornal The  Independent, o Ivy foi sinônimo de exclusividade. Jornalistas disseram no passado que é mais fácil ter acesso a Fort Knox, ao Arquivo do Vaticano ou à ‘calcinhas de Meg Ryan‘ do que conseguir entrar no The Ivy.  

Eu ouvir falar no restaurante pela primeira vez em revistas de música. Os irmãos Gallagher, do Oasis, viviam por lá e vira-e-mexe davam algum vexame dentro ou na porta do The Ivy,  localizado numa esquina discreta e escondida no meio de um triângulo imaginário ligando Covent Garden, Trafalgar Square e Tottenham Circus. É no coração do West End , a Teatrolândia londrina, o que explica a popularidade do restaurante junto à comunidade dos atores, produtores, diretores e agentes. 

A fila de espera para conseguir uma reserva dura três meses – a não ser que se seja famoso. Entre os frequentadores, estiveram ou estão Madonna e Guy Ritchie, Brad Pitt e Angelina Jolie, Diana Ross,  Mick Jagger e Jerry Hall,  Kate Moss, Jack Nicholson, George Michael, Claudia Schiffer, Robbie Williams, enfim, um mundo de celebridades ‘A’.

Quero deixar claro que nunca fui ao Ivy - sim, é chato falar de lugares que a gente não conheceu pessoalmente – e que escrevo com informações colhidas dos jornais.

theivy.jpg

E pesquei boas histórias. O sucesso do Ivy, ou pelo menos a consagração como local preferido dos famosos, parece decorrer do talento que os donos, Jeremy King e Chris Corbin, tiveram na decoração do local – com pinturas especialmente encomendadas – e no seu talento em fazer os freqüentadores se sentirem ‘especiais’. 

King e Corbin têm a manha de saudar pessoalmente as celebridades de mesa em mesa perguntando sobre seu novo filme, livro, peça, programa de TV ou divórcio.

E mais, eles têm um talento especial para a arte de indicar a mesa perfeita para cada cliente, a arte de saber que, nas palavras de um ex-funcionário ouvido pelo Independent, “se você recebe os chefões de duas agências de publicidade, você os coloca em lugares separados o suficiente para que possam falar sobre negócios sem que o rival possa ouvir, mas próximos o suficiente para que possam ver com quem o outro está jantando”.

“Eles sabem que um editor de política de um jornal jantando com um político quer uma mesa discreta, onde não seja ouvido nem visto. E que um ator de novela quer exatamente o oposto.”

Eles sabem também que há limites para a paparicação de famosos. Jennifer Lopez, por exemplo, acabou sendo barrada depois que seus assessores ligaram três vezes fazendo mudanças na sua reserva.  

E a comida? As críticas em geral são bastante positivas. O cardápio é grande, as opções são diversificadas. Aqui eu prefiro citar a opinião da colega Mônica Vasconcelos, que disse ter comido ali uma fish pie (torta de peixe) “sensacional”.

A Mônica também reforçou um ponto que li numa crítica do food writer e cineasta Michael Winner, de que o restaurante faz as pessoas se sentirem bem, o que ele chama de “easy-going atmosphere” (“atmosfera tranqüila”), e que a Mônica chamou de ambiente “simples, sem exageros”.

O Ivan Lessa também esteve no Ivy e foi só elogios. Mas ele esteve ali nos anos 70, quando o Ivy era outra coisa.

Na verdade, o local descende de um café fundado ali em 1917, por um italiano que queria oferecer comida boa e barata para a turma do West End. Noel Coward e Marlene Dietrich comiam ali. E foi uma canção popular, entoada por uma atriz ao dono do local, que deu a ideia do nome (“nós todos viremos/vamos nos apegar como hera”). Ivy é o inglês para hera (a trepadeira).

Em 1990, quando foi comprado por King e Corbin, o local estava em franca decadência e passou pela reforma que deu no Ivy de hoje, nesse, que acaba de fazer 20 anos.

dzԳáDzDeixe seu comentário

  • 1. à 08:35 PM em 12 nov 2010, Tati escreveu:

    Ok, a comida pode até ser boa, mas três meses por uma mesa? É muita vontade de pertencer ao mundo dos chiques e famosos...

  • 2. à 10:32 PM em 14 nov 2010, Anna Fernandes escreveu:

    Adorei o post! bom saber! eu confesso q já passei pelo local mas nunca dei muita atenção! mal sabia eu que se tratava de um "super restaurante".
    Acho que esses critérios e o modelo adotados pelos donos são bem interessantes!

ѿý iD

ѿý navigation

ѿý © 2014 A ѿý não se responsabiliza pelo conteúdo de sites externos.

Esta página é melhor visualizada em um navegador atualizado e que permita o uso de linguagens de estilo (CSS). Com seu navegador atual, embora você seja capaz de ver o conteúdo da página, não poderá enxergar todos os recursos que ela apresenta. Sugerimos que você instale um navegados mais atualizado, compatível com a tecnologia.