O 'punk' da alta cozinha (o último post)
Outra coisa que o rock’n’roll e e a comida têm em comum: são assuntos muito bons, em qualquer mesa de bar – com a ressalva de que rock interessa bem mais em rodas masculinas.
Os paralelos não param por aí, e vou forçar a barra um pouco nessa última comparação, que, na verdade, é mais um “gancho” para falar de um novo fenômeno no mundo gastronômico: o avanço dos food trucks.
Food trucks são vans ou caminhões adaptados para venderem comida, grosso modo, restaurantes sobre rodas.
O conceito de uma kombi ou um trailler vendendo cachorro-quentes ou pastéis, por exemplo, não é novo, mas os food trucks são mais sofisticados.
São vans com griffe, de visual caprichado, que oferecem comida especializada de qualidade e cujo esquema de marketing dá inveja a vários restaurantes de nível, pois a imagem de um “evento sobre rodas” cai como uma luva para as mídias sociais.
O fenômeno se consolidou nos Estados Unidos, nos últimos dois ou três anos. Em 2009, a GQ americana já publicava uma lista dos 10 Best Food Trucks do país.
Todas as grandes cidades americanas têm suas food trucks mais queridas. Em outubro de 2010, Chicago realizava sua primeira cúpula de food trucks da região, que reuniu, em um estacionamento, vans como Flirty Cupcakes, The Southern Mac, Sweet Miss Giving’s, Tamali Space Churros, 5411 Empanadas, Hummingbird KItchen e gaztro-wagon (achei melhor não traduzir ou explicar) que vendem doces, hambúrgueres, comida mexicana, pastéis, frango frito ou churros “espaciais”.
A moda chegou a Londres no final do ano passado, quando a , a van de Jun Tanaka, chef do Pearl e com várias participações em programas de TV, estacionou por algumas semanas em Covent Garden.
A Street Kitchen vende pratos servidos em caixinha de isopor, como por exemplo a salada de broad beans - um feijão verde grande, com beterraba, agrião e queijo Old Winchester ou o salmão grelhado com beterraba marinada, salada de couve-rábano (kohlrabi), batatas “ao murro” e ervas. A salada custa 5,5 libras (R$ 13,7), o salmão 6,5 (R$ 16,2).
Os preços são outro ponto de venda das food trucks. A clientela faz fila para comer em plena rua, de pé.
Jovens chefs em busca de independência estão caindo matando na ideia. É bem mais fácil vender numa van do que num restaurante, assim como é bem mais fácil promover o produto.
É aqui que retorno ao paralelo com o rock’n’roll. Os food trucks seguem a filosofia do “faça você mesmo”, são da turma que busca uma expressão e um caminho próprios para fazer e divulgar o que têm a oferecer, na marra e no muque.
Em suma, são o “punk da alta cozinha".
Criativos e empreendedores, esses jovens chefs apostam em vans estilosas, logos e designs bem bolados e sites transados. E eles tuítam. Divulgam quando e onde vão estar , numa constante comunicação direta com o freguês.
O trampo é duro. E ainda é preciso lidar com a legislação urbana, licenças, e eventuais multas de estacionar em local proibido.
O negócio é batalhar, abrir novas formas de levar sua arte ou produto ao público. Como os punks faziam.
E com esse post, o ѿý à Mesa se despede de seus leitores.
Foram 83 posts desde novembro de 2009. Uma grande curtição, mas que não dava mais para ser levada adiante por falta de tempo e mudanças de prioridades.
A todos que acompanharam o blog, e em nome de todos os que escreveram nele, agradeço pelo interesse e apoio.